sexta-feira, 6 de julho de 2012

David Malta do Nascimento



Pioneirismo na defesa intransigente da justiça

O despertamento social
Eu fui estudar muito tarde; eu terminei o curso colegial com 20 anos de idade. Depois foram as leituras, o contato com universitários, a polêmica que resultou nessa compreensão de uma teologia aberta ao ser humano.

Esse assunto que diz respeito à beneficência cristã, ação social, justiça social me tocou bastante e naquela época —fim da década de 1940 e início de 1950 — se desenvolvia no Brasil o esquerdismo marxista. E já na faculdade eu fazia parte de um grupo que era de uma tendência socialista não comprometida com o marxismo, na Faculdade de Direito. Lutamos bastante no sentido de tomar posição sobre aspectos da vida social brasileira. 

Você bem sabe que naquela época havia um interesse muito grande do ponto de vista político e os grupos se formavam com bastante conteúdo e se opunham. Então, de um lado estavam os esquerdistas e, do outro, os conservadores. Vou dizer uma coisa — eu não me lembro o ano [provavelmente em 1966, data da primeira candidatura de Lysâneas à Câmara dos Deputados, pelo MDB]. Você sabe que eu fui candidato, ou a deputado estadual, ou a vereador. Formei um par com Lysâneas Maciel e nós fizemos a campanha. Eu tive 5500 votos; ele teve 12 mil pra Câmara Federal. Eu tive 5500 votos, mas não deu pra me eleger vereador, ou deputado estadual, no Rio. Esse lado — vamos dizer — social me falava profundamente, e nós lá na Faculdade tínhamos o nosso grupo. Mas cá fora tínhamos o grupo de líderes batistas e evangélicos que também estava bastante sensibilizado por essa causa. Nesse contexto, surge o Movimento Diretriz Evangélica. O Movimento Diretriz Evangélica foi um ideal, o sonho de alguns líderes batistas, e nós tínhamos uma abertura porque eu sempre fui bastante sensível e voltado para o problema da aproximação das denominações batistas e evangélicas no Brasil. Então, nós – Lauro Bretones, Mario Barreto França, Helcio Lessa, Himaim Lacerda, dentre outros – nos aliamos de alguma forma à Confederação Evangélica do Brasil. Naquela época houve o famoso congresso no Recife que marcou historicamente os evangélicos no Brasil. 


Ação política da igreja
Não quero envolver a igreja diretamente na política como algumas denominações estão fazendo, não acho correto isso. Porque o Estado é separado da Igreja. Mas o melhor é dar formação em cidadania aos membros da igreja para que eles atuem, por exemplo, nos seus locais de trabalho. Se você puser na cabeça de um jovem ideais de justiça, de humanização etc., ele pode pôr essas idéias em prática no seu ambiente de trabalho. Não estou dizendo que em todo culto vai se falar de justiça social, mas a gente pode fazer congresso, conferência. A juventude precisa ser despertada e, às vezes, nós passamos por cima, não consideramos isso. 

Uma coisa que me preocupa muito, muito, muito: A igreja e sua periferia. O que ela faz com a população que está perto? Ela tem alguma promoção? Ela tem alguma forma de chegar e fazer algum evento e convidar os vizinhos e seja algo que interesse aos vizinhos? A igreja, por exemplo, sofre uma limitação porque há certas atividades na área de saúde que precisam obedecer à legislação. A gente devia estudar esse assunto. A igreja que frequento agora foi obrigada a fechar seu ambulatório onde havia médicos atendendo. Preste atenção — teve que fechar esse ambulatório porque a lei não permite que funcione assim. Então, a gente devia estudar como é que a lei estabelece ou influenciar, quem sabe, a própria lei. Mas a igreja não chega às pessoas que estão perto dela. Ela não chega. Ela tem que criar uma forma de se relacionar com essas pessoas, com essas famílias. 

Somente sei que não podemos continuar como estamos. Mas como eu creio que a história é feita de reformas, eu estou esperando. Você imagina que jamais uma coisa possa acontecer, e acontece!

Um comentário:

Unknown disse...

O texto é muito bom e provocante. Precisamos tirar a igreja das quatro paredes,e fazemos isso sendo igreja nos relacionamentos e não ficando inertes às necessidades daqueles com quem nos relacionamos como igreja.