Pioneirismo na defesa intransigente da justiça
O despertamento social
Eu fui estudar muito tarde; eu terminei o curso
colegial com 20 anos de idade. Depois foram as leituras, o contato com
universitários, a polêmica que resultou nessa compreensão de uma teologia
aberta ao ser humano.
Esse assunto que diz
respeito à beneficência cristã, ação social, justiça social me tocou bastante e
naquela época —fim da década de 1940 e início de 1950 — se desenvolvia no
Brasil o esquerdismo marxista. E já na faculdade eu fazia parte de um grupo que
era de uma tendência socialista não comprometida com o marxismo, na Faculdade
de Direito. Lutamos bastante no sentido de tomar posição sobre aspectos da vida
social brasileira.
Você bem sabe que naquela
época havia um interesse muito grande do ponto de vista político e os grupos se
formavam com bastante conteúdo e se opunham. Então, de um lado estavam os
esquerdistas e, do outro, os conservadores. Vou dizer uma coisa — eu não me
lembro o ano [provavelmente em 1966, data da primeira candidatura de Lysâneas à
Câmara dos Deputados, pelo MDB]. Você sabe que eu fui candidato, ou a deputado
estadual, ou a vereador. Formei um par com Lysâneas Maciel e nós fizemos a
campanha. Eu tive 5500 votos; ele teve 12 mil pra Câmara Federal. Eu tive 5500
votos, mas não deu pra me eleger vereador, ou deputado estadual, no Rio. Esse
lado — vamos dizer — social me falava profundamente, e nós lá na Faculdade
tínhamos o nosso grupo. Mas cá fora tínhamos o grupo de líderes batistas e evangélicos
que também estava bastante sensibilizado por essa causa. Nesse contexto, surge
o Movimento Diretriz
Evangélica. O Movimento Diretriz Evangélica foi um ideal, o sonho de
alguns líderes batistas, e nós tínhamos uma abertura porque eu sempre fui bastante
sensível e voltado para o problema da aproximação das denominações batistas e
evangélicas no Brasil. Então, nós – Lauro Bretones, Mario Barreto França,
Helcio Lessa, Himaim Lacerda, dentre outros – nos aliamos de alguma forma à
Confederação Evangélica do Brasil. Naquela época houve o famoso congresso no
Recife que marcou historicamente os evangélicos no Brasil.
Ação política da igreja
Não quero envolver a igreja diretamente na política
como algumas denominações estão fazendo, não acho correto isso. Porque o Estado
é separado da Igreja. Mas o melhor é dar formação em cidadania aos membros da
igreja para que eles atuem, por exemplo, nos seus locais de trabalho. Se você
puser na cabeça de um jovem ideais de justiça, de humanização etc., ele pode
pôr essas idéias em prática no seu ambiente de trabalho. Não estou dizendo que
em todo culto vai se falar de justiça social, mas a gente pode fazer congresso,
conferência. A juventude precisa ser despertada e, às vezes, nós passamos por
cima, não consideramos isso.
Uma coisa que me preocupa
muito, muito, muito: A igreja e sua periferia. O que ela faz com a população
que está perto? Ela tem alguma promoção? Ela tem alguma forma de chegar e fazer
algum evento e convidar os vizinhos e seja algo que interesse aos vizinhos? A
igreja, por exemplo, sofre uma limitação porque há certas atividades na área de
saúde que precisam obedecer à legislação. A gente devia estudar esse assunto. A
igreja que frequento agora foi obrigada a fechar seu ambulatório onde havia
médicos atendendo. Preste atenção — teve que fechar esse ambulatório porque a
lei não permite que funcione assim. Então, a gente devia estudar como é que a
lei estabelece ou influenciar, quem sabe, a própria lei. Mas a igreja não chega
às pessoas que estão perto dela. Ela não chega. Ela tem que criar uma forma de
se relacionar com essas pessoas, com essas famílias.
Somente sei que não podemos
continuar como estamos. Mas como eu creio que a história é feita de reformas,
eu estou esperando. Você imagina que jamais uma coisa possa acontecer, e
acontece!
Um comentário:
O texto é muito bom e provocante. Precisamos tirar a igreja das quatro paredes,e fazemos isso sendo igreja nos relacionamentos e não ficando inertes às necessidades daqueles com quem nos relacionamos como igreja.
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