Pensando na fundamentação bíblico-teológica para a Igreja, também na etimologia - no Latim: ecclesia -, assembléia do povo, Igreja - no Grego: ekklesía, assembléia. Igreja pode designar reunião de pessoas, sem estar necessariamente associada a uma edificação ou a uma doutrina específica. No texto bíblico do Novo Testamento, a palavra Igreja aparece por diversas vezes, onde é utilizada como referência a um grupamento de cristãos e não a edificações ou templos, nem mesmo a toda comunidade cristã.
É composta de todos os crentes em Jesus Cristo. É formada por todos os eleitos de Deus, por todos os homens e mulheres convertidos. Nesta Igreja não há diferença entre judeu e grego, negro e branco, mas a fé em Jesus Cristo é que é tudo.
Na Confissão Bélgica está escrito que a Igreja “É a santa congregação dos verdadeiros crentes em Cristo”, enquanto isso na II Confissão Helvética diz “É a companhia dos fiéis chamados e retirados do mundo” e na Confissão de Westminster “O número total dos eleitos que têm sido e serão reunidos em um”.
Para os protestantes a Igreja é santa por causa da união com Cristo, por causa do alvo da vida dos crentes, porque os crentes são separados para servir a Deus e por causa da presença do Espírito Santo, o Pacto de Lausanne fala que a Igreja não é uma institucionalização.
Existem dois extremos que marcam a percepção da Igreja, uma é que pertencendo a Igreja invisível pode-se abandonar a Igreja visível ou local, não fazendo parte da comunhão da Igreja local, e o outro extremo, é achar que a Igreja local ou visível é a única Igreja correta, assim Landers diz:
(...) uma visão da Igreja como uma realidade espiritual, acima de qualquer manifestação local, eleva a visão da própria Igreja local. Enquanto a igreja é uma organização entre várias, do ponto de vista sociológico, ela também é uma manifestação, embora imperfeita, de uma realidade espiritual que transcende o nível meramente organizacional[1].
Lutero distinguia Kirche que é a instituição , a pessoa jurídica da igreja e Gemandi que é a comunidade , a comunhão dos santos. Apesar da distinção , Lutero afirmava que ambas são inseparáveis , já que o Kirche somente tem razão de ser e existir na Gemandi. Para Calvino a Igreja é o lugar onde se prega e onde os sacramentos são administrados corretamente. Para ele Igreja invisível é o corpo dos predestinados e a Igreja visível é uma situação de emergência, uma adaptação de Deus à fraqueza humana. Uma criação de emergência de Deus.
Como será que o Senhor olha para a Sua igreja nos dias atuais? A igreja tem sido um modelo denunciador? Ela tem irritado aqueles que se sentem acusados pela sua postura ética com relação ao outro? A igreja tem dado ao mundo o senso de responsabilidade moral? “Paulo disse: mas todos aqueles que quiserem viver justa e piedosamente sofrerão perseguições”. A igreja tem vivido de forma justa e piedosa?
Toda igreja, comunidade, etc. precisa de dogmas, é uma necessidade para existência desse grupo ou igreja. Assim como o dogma é uma resposta as perguntas geradas pela comunidade, da mesma forma esse dogma precisa ter uma flexibilidade. A igreja precisa estar preparada para dialogar com a comunidade, e transformar os seus dogmas de forma que a comunidade veja o posicionamento dela. Assim como tudo depende única e exclusivamente da forma que é usada, a comunidade entende o que é correto, será bom, se usar a forma errada, será prejudicial tanto para a comunidade como para própria igreja.
O evangelho tem passado por tantas mudanças que nos leva a questionar se a igreja de Jesus está atuando como Ele gostaria que fosse feito. Não é difícil para nós sabermos a resposta. Basta compararmos o comportamento da igreja atual com os ensinos de Jesus e dos apóstolos. Os problemas também perpassam pelas questões étnicas, que muitos erradamente chamam de raciais. O cenário mundial encontrado é a minimização do outro, como a outra etnia é inferior, a outra religião é do diabo, e transforma-se em um campo de batalha que tem como ponto de partida o fundamentalismo. Não Matarás! Matar significa negar a dimensão infinita do Outro lhe reduzindo a um mero “ente” do mundo. E pode-se matar de várias formas o outro, não dando a possibilidade de voz, marginalizando-o, minimizando o outro a percentagens, a números, etc.
Na Igreja todas as distinções de etnia e civis são anuladas, Gl 1.3 Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, e Gl 3.28 Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. Esta unidade da Igreja não é externa, consistindo em crença intelectual ou em forma de governo, mas é totalmente espiritual, o resultado do poder unificador do Espírito Santo, Jo 17.21 “para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste”, Rm 12.5 “assim nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e individualmente uns dos outros”, e Ef 4.13 “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo”.
O pecado não é somente o que estereotipamos, mas também está nos sistemas sociais, econômicos e políticos. Não podemos pensar em uma batalha carismática que faz uma demonstração do espetacular, batalha do poder humano, a luta é para ser enfrentado eticamente, precisamos evidenciar o espiritual, mas não devemos negligenciar o ser humano holístico. Podemos aprender com a ética de Cristo, redescobrir o Reino e a utopia do evangelho, transpassando as paredes da casa e da Igreja.
Buber explorou a aplicação do método de "eu e tu", a que chamou "princípio dialogal", aos problemas da comunidade e da educação. Utilizou o mesmo método na interpretação da Bíblia, vendo a ligação entre Deus e Israel como exemplo dessa “relação dialogal”: a fé é um diálogo entre Deus e o homem. Deus se manifesta ao homem e este se apropria da palavra de Deus.
Uma pergunta que fica é, porque os estados brasileiro onde mais se ouvem falar em violência, são os estados com o maior percentual de evangélicos? Tais como o Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo? Não podemos somente dizer que somos agentes de transformação, isso é uma redundância exponencial, precisamos acabar com os slogans e fazer valer o direito do outro, faze valer a utopia do evangelho.
A transferência de riqueza desigualitária neoliberalista de uma globalização excludente, e políticas em falência que não vão solucionar esse problema de transferência. A pregação da utopia do evangelho minimiza a desigualdade da sociedade, por que o cerne dessa utopia é a eqüidade.
Se a adoração não nos impulsionar para maior obediência, ela não é adoração. Assim como a adoração começa em santa expectação, ela termina em santa obediência.
Precisamos resgatar a utopia do evangelho, ser sacudido pela movimentação da alteridade, movidos pelo amor ao próximo, pois o próximo também é feitura das mãos do Criador. Por isso, a Igreja do século XXI precisa aprender a valorizar o outro, mesmo que o outro pense diferente de mim, tenha uma outra etnia, seja de outra classe social, mesmo que o outro seja de uma outra religião. Através do diálogo poderemos vivenciar o Reino de Deus.
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